A ex-secretária da Cultura, Regina Duarte, está sendo processada por apologia da tortura pela filha do diplomata, editor e jornalista José Jobim, que foi torturado e morto pelas forças do governo militar, em 1979. A jornalista e advogada Lygia Jobim conta ter ficado “absolutamente estarrecida” ao assistir a entrevista da então secretária.

Em entrevista ao GLOBO, Lygia contou que decidiu entrar com a ação logo após a entrevista da atriz. Na ocasião, a então secretária da Cultura disse que “sempre houve tortura”, que não se devia “ficar cobrando coisas que aconteceram nos anos 60, 70, 80”. Também cantou a marchinha “Pra frente Brasil”, que foi apropriada pelo regime militar e virou um símbolo do governo da época.

“É uma naturalização da tortura, um deboche com nossos mortos”, disse Lygia, que hoje tem os mesmos 69 anos que seu pai ao ser morto. “Fiquei dois dias com isso entalado na garganta. E então resolvi procurar a Justiça. Essa senhora me ofendeu. Fez pouco de algo que me afetou profundamente, que foi não poder me despedir de meu pai porque ele foi enterrado em caixão fechado devido às marcas da tortura.”

Segundo o advogado Carlos Nicomedos, a reparação inclui retratação pública e um pagamento de R$ 70 mil por danos morais, divididos entre os dois réus, Regina Duarte e a União. “Esse valor não traduz o valor da ofensa, mas está dentro dos parâmetros do Superior Tribunal de Justiça”, disse o advogado.